A noite começou tumultuada. A tristeza logo cedeu espaço para a desordem. Em volta do caixão três mulheres choravam copiosamente, sem se conhecerem. Nos olhares, mais que farpas, eram disparadas troncos inteiros de ódio. Quem seriam aquelas senhoras vestidas de preto, visivelmente emocionadas? – perguntavam-se interiormente cada uma delas.
A situação piorou quando o filho de uma delas o chamou de “pai”. A discusão foi generalizada e perfeitamente entendível. Havia um defunto e três viúvas. E cinco filhos. E três sogras(!). Uma delas simulou um desmaio. Outra pediu calmante. E a outra realmente demaiou.
Documentos foram levados para julgamento. Datas foram colocadas em paralelo. Em uma mesa redonda as três rivais disputavam fatos e fotos. Porém, a solução da questão estava tão distante quanto o asteróide B612. Não haviam mais dúvidas. Foram enganadas. Vítimas da lábia sedutora do motorista de ônibus, Sr. Pacheco... ou Pachecão... ou Pachequinho... Dependendo da cidade.
A infausta notícia, obviamente, surpreendeu a todas. A princípio concentraram-se em uma guerra particular. Disputavam pêsames a pêsames. Tentavam chorar mais alto, uma do que outra. Três urubus esfomeados em volta de uma mesma carniça. Assim procederam até que, vencidas pelo cansaço ou pela compreensão, aceitaram a condição de presas de um mesmo golpe.
Se apresentaram. Maria das Graças. Maria de Fátima. E Maria mesmo. Coincidência ou predileção? A resposta para esta pergunta estava tão morta quanto o presunto sob a bancada de mármore. Começaram timidamente. Maldizendo o morto. Se perguntando onde erraram. Ou como foram tão cegas em não perceber tão épica situação. Logo, estavam trocando confidências...
Maria: -Ele também dormia depois do almoço?
Maria: -Claro... de bruços.
Maria: -Roncando baixinho.
Todas: -Menos quando comia feijoada...
Foram adquirindo intimidade.
Maria: - Dia de jogo também era dificil pra vocês?
Maria: - Cerveja gelada, tira-gosto e a turma da pelada em casa.
Maria: - Bandeira do Cruzeiro sobre a televisão e vela acesa.
Todas: - E aí de quem passasse na frente da televisão...
Foram adquirindo muita intimidade.
Maria: - Ele também fazia aquela posição?
Maria: - Aquela arqueada com a mão pra trás!
Maria: - A perna entralaçada na cintura!
Todas: - Que homem, que perda...
Gostei do texto!!
ResponderExcluirNossa Thiago, parabéns! Vc escreve demasiadamente bem!!! Pena que vc não está advogando, pois tenho certeza que suas peças são divinas, os juízes agradecem!
ResponderExcluirAbraços, Bia.