segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

FILOSOFADAS ETÍLICAS

           Estava preste a cometer suicídio. Do alto da ponte chorava copiosamente nossa personagem. Fazia um discurso solitário para si mesmo. A garrafa de vodka barata era testemunha de tudo. O filme da vida passava em preto e branco. Nada mais fazia sentido. Nem as rosquinhas açucaradas da vovó. Nem as peladas matutinas. Nem a Claudete. Aliás, muito menos a Claudete.
           
Estava com seus 36 anos. Bem dormidos. Não apreciava o trabalho, estudo ou qualquer coisa do gênero. Tentou uma carreira alternativa: montou a banda “Os Macacos Orgânicos de Cingapura”, banda esta sem muita expressão no circuito municipal. Já no final da vida resumia-se a comer, dormir e assistir Thundercats. A namorada Claudete o deixou pelo entregador de jornal. O pai o expulsou de casa quando resolveu ser metrossexual. A mãe ainda espera o retorno do filho pródigo.
           
Retomando nossa narrativa, seriam aqueles os últimos momentos de Normando, se não fosse pela intervenção de um bêbado que ali passava. Um psicólogo bêbado. Bebendo para esquecer os problemas dos outros. Pediu a Vodka. Compartilharam como irmãos. Conversaram sobre Freud, Sartre, Kiegaard, mas só chorou quando o Dalai Lama foi citado. Fez terapia para esquecer Claudete. Regressão até a infância para expulsar o medo de baratas. Renasceu para vida...

-          Doutor, estou me sentindo MA-RA-VI-LHO-SO.
-          Filosofadas, filosofadas...
-          O senhor é uma “star”.
-          Filosofadas, filosofadas...
-          Não posso viver sem você!
-          Manera aí, é só a boa ação de uma filosofada etílica.
-          Me dá um beijo?

Então o doutor o empurrou da ponte.