Era sempre assim. De tempos em tempos arrumava uma namorada. Era seletivo. Não gostava das vazias, ainda que bonitas. Preferia as românticas, sonhadoras, visionárias e as que cozinhavam bem. Só que aí acontecia. Aquele sentimento estranho por natureza. Enquanto ainda pisavam em flores, quando os defeitos ainda encontravam-se imperceptíveis aos olhos da paixão, ele danava em terminar os namoros.
Não haviam justificativas para serem dadas. Vez ou outra as inventava, boas ou ruins. Vez ou outra recorria a chavões. “Você não merece”. “Sou muito jovem para envolver-me em um relacionamento tão sério”. “Acho que sou gay”. “Não é você, sou eu”. Essas coisas... E não importa o que escutavam, o príncipe era destronado. Convertido em algo asqueroso e repudiável. As donzelas refugiavam-se em suas altas torres e choravam na esperança de que algum novo príncipe encantado fosse lhes tirar daquele pesadelo, (muito embora receosas de uma nova desilusão – essas mulheres nunca aprendem, né).
O que não pode ser compreendido nesta curta estória, (mas, com conteúdo dramático considerável), é que ele, vivendo um paradoxo sem limites, sofria até mais que elas. Buscava o alento do quarto de dormir e, por no mínimo três dias e noites, ficava a escutar “Vento no Litoral” e a consumir dezoito caixas de lenço de papel. Matava serviço. E sofria a perda da mulher amada. Não queria conversar com as pessoas. E sofria a perda da mulher amada. Cozinhava para um. E sofria a perda da mulher amada. Lia Drummond. E sofria a perda da mulher amada. Jogava pingue-pongue. E sofria a perda da mulher amada... Amada???
Como assim? Não era sempre ele a terminar seus namoros? Pior. Quando tudo ainda eram risos e o amor nada monótono. Quando ela pensava em apresentá-lo aos pais. Quando aquela música no rádio parecer fazer todo sentido. Quando se perde metade do dia de trabalho pensando no ser amado. Quando se gasta o triplo do valor daqueles ursinhos de parque de diversões só para ganhá-los atirando com a espingarda de pressão. Por quê? Por quê?
Ele não sabia. E depois de vinte e oito namoradas em três anos, resolveu buscar ajuda. Era sempre a mesma estória. A iniciativa do rompimento, a dor que só os poetas sabem explicar e os por quês sem resposta. Tentou o espiritismo, zen-budismo, capitalismo e darwinismo. Quiromancia. Farmacologia, zoologia, pirofagia. Já cansado de buscar explicações, acreditando ser sua vida destinada a infligir dor e sofrer em razão dela, foi num Congresso Internacional de Masoquismo Tântrico, ao ouvir palestra de um lama discípulo de Freud, que pode raciocinar sua condição peculiar: Não havia uma razão divina ou reencarnacionista em seu comportamento... Era viciado em dor de cotovelo.