segunda-feira, 9 de abril de 2012

Efeito Concurseiro

            Noite de sábado. Em pé, porque sentado só os fracos, o concurseiro espera a chegada do ônibus, depois de quatro horas de uma prova simulada. Nas mãos uma guia de bolso de “controle de constitucionalidade alemão pós-garantista”. A leitura profunda é interrompida por um gatuno que espreitava nas sombras. Saltando diante de nossa personagem, falou em tons negros de raiva:
            - Perdeu, Playboy! Perdeu Playboy! Vou te furar com minha peixeira e levar toda a sua grana!
            A mão do Concurseiro, que não citaremos o nome por questões legais, levanta-se com rapidez pedindo que o algoz aguarde um instante. O Concurseiro parece estar finalizando um capítulo. O clima é tenso...
            - Pois não?
            - Pois não, mano???!!! POIS NÃO???!!! Tá doido, peixe? Tá me tirando? Sô muleque doido, rapá... tá brincando com sua vida!
            - Muleque doido? Sou concurseiro, porra! Vivo no limite da minha sanidade! No hospício que você vive eu sou o diretor!
            O raposo assaltante não entende muito, mas respeita a atitude da vítima.
            - Escuta, meliante, posso te dar uma dica?
            - Fala véi.... mas anda que tem mais gente na fila pra levá esporro... tenho que levar leite pra casa senão minha muié minha mata!
            - Quando estiver realizando seu fatos típicos...
            - Que???
            - Seus crimes....
            - Ah, tá....
            - Não diga que vai matar pra pegar o dinheiro.... Isso é latrocínio e tem pena de 30 anos de cadeia. Assalte apenas. Se matar alguém, não leve o dinheiro. Você será indiciado em roubo ou homicídio. As penas são menores.
            - Pô mano, valeu pela dica. Dá um abraço aqui... É que a gente não é estudado, sabe...
            O ex-assaltante-assassino, (agora só assaltante ou assassino), sai girando sua faca, pensando quão valioso é uma conversa e ensaiando sua nova abordagem, quando é interrompido pelo concurseiro que o chama.
            - Fala, Dotô...
            - São R$ 100,00 reais pela consulta jurídica.
            - Que isso, mano! Mas que assalto!.... Faz um menos, Dotô?
            - Oitenta e cinco pratas, sem choro. Tenho que comprar uns livros novos...
            Quem é o bandido, quem é o mocinho? Não importa. Foi feito justiça? Não importa. A vida os levará a ficar novamente frente a frente. O Concurseiro será o promotor; o gatuno será gatuno mesmo. Mas, enquanto isso, valeu a lição: afastem-se de quaisquer pessoas de óculos e livros jurídicos nas mãos. O saber e a tensão emocional.... dois velhos namorados.

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